domingo, 26 de fevereiro de 2012

A Felicidade na visão de Epicuro

Para o filósofo Epicuro a felicidade só pode ser definida quando comparada com o desprazer. E o desprazer é sofrimento, é perturbação física e mental. Necessário então definir o prazer: “O prazer é a falta de dor e não pode ser confundido com o prazer físico carnal”.  Assim, devemos ainda considerar que o prazer físico deve ser comedido, pois ele pode causar dores.


O prazer e o desprazer podem ser então definidos pela necessidade e pela mudança. O prazer se caracteriza por um estado de bem-estar com a vida, onde inexiste a necessidade de algo. Quando estamos nesse estado, a busca pela felicidade não tem sentido. Quando a necessidade volta a surgir, aparece como conseqüência o desprazer. Nessa situação temos a necessidade de buscar a felicidade que é a volta ao estado de prazer.


Então, a felicidade é entendida como um movimento em direção a geração de mudanças. A cada vez que sentimos desconforto, desprazer, somos estimulados a buscar algo que nos faça voltar ao estado anterior que nos dava prazer. Essa busca pelo estado de tranqüilidade anterior é a busca pela felicidade. É importante observar que somente quando sentimos o desconforto é que percebemos que estávamos felizes. Epicuro afirmou que o que buscamos para sermos felizes são: a ataraxia, ou seja, a ausência de perturbações e a aponia, a ausência de dores.


Entre as preocupações que nos afligem e que podem nos tirar a felicidade está a morte. Epicuro afirma que se preocupar com a morte não tem sentido, pois quando a morte se faz presente, nós estamos ausentes e quando a morte está ausente, nós estamos presentes. Seguindo esse raciocínio não deveria existir motivo para nos preocuparmos com a morte e fazer dessa aflição um motivo de desprazer.

Epicuro nos alerta para o fato de que poucas coisas são realmente importantes para a felicidade. Considerando os prazeres necessários a uma vida feliz, o filósofo nos apresenta uma escala bem definida de prazeres e necessidades. Seguindo essa escala devemos nos afastar dos desejos por prazeres impróprios, que acabam por nos trazer perturbações ao corpo e a alma.


Prazeres naturais e necessários são aqueles essenciais à nossa vida, como comer, beber, descansar, proteger-se do frio, etc. Esses prazeres devem ser sempre plenamente satisfeitos, porque a ausência deles nos causa sofrimentos.


Prazeres naturais e não necessários são os excessos daqueles citados anteriormente. Representam a gula, o sexo em excesso, a aversão ao trabalho, o desejo de se vestir com luxo. Tais desejos devem ser limitados porque podem trazer perturbações ao corpo ou a alma. 


Prazeres não naturais e não necessários são aqueles que de forma alguma satisfazem    nossas necessidades e são totalmente vãos. Exemplos são aqueles desejos provocados por superstições, desejos de riqueza, de poder, de honras.


Epicuro ainda afirma que “só existe um caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que ultrapassam o poder de nossa vontade”. Afirma ainda, que não é a posse de riquezas ou a obtenção de cargos e poder que produzirá a felicidade e o bem-estar.

Também, as aflições sobre eventos passados ou a temores relacionados ao futuro contribuem para nos afastar da felicidade. Segundo Epicuro devemos ter gratidão pelo passado, alegria com o presente e não temer o futuro.


Em nossa busca pela felicidade, frequentemente nos desorientamos, perdemos o foco, não entendemos exatamente o que nos move e o que de fato é importante em nossa vida. Cabe a cada ser humano, que busca a felicidade, uma reflexão profunda sobre os seus anseios e sobre o que pode fazê-lo infeliz para, então, buscar a mudança necessária o leve novamente a uma condição de bem-estar e de felicidade. 

O entendimento profundo e o discernimento sobre as coisas que são realmente importantes definem o primeiro passo para uma existência plena e livre das aflições. Tais aflições podem nos fazer perder toda uma vida em meio a um nevoeiro de incertezas e de apego a coisas pequenas e transitórias

O mérito de Epicuro está em ter compreendido que havia alguma coisa que reclamava um grande número de espíritos e em ter-lhes dado satisfação de uma forma admirável. Não precisamos estudar profundamente sua filosofia para compreender que são as mentes abertas, inteligentes e livres da pretensão pelo poder e riqueza aquelas que podem alcançar esse estado de espírito chamado felicidade.

Referências

Coleção os Pensadores.  Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio.  Seleção de textos: José Américo Motta Pessanha. 591p. 1985.  Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/17502821/Epicuro-Lucrecio-Cicero-Seneca-Marco-Aurelio-Colecao-Os-Pensadores> Acesso em: 01/10/2011



Reflexão e Prática 37. Pensamento de Epicuro e A felicidade dos prazeres. Filosofia, v. 5, n. 48, 2010.